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Segunda-feira, 19 de Maio de 2025
O que é a "memória genética"?
Correio do Ar

Quando pensamos em memória, geralmente a associamos a experiências vividas: recordações de infância, informações aprendidas na escola ou eventos marcantes da vida. No entanto, a ciência tem investigado uma hipótese intrigante — a de que certos traços de memória podem ser transmitidos biologicamente de uma geração para outra, mesmo sem que a pessoa tenha vivido diretamente a experiência original. Esse conceito é conhecido como "memória genética" e tem ganhado força no campo da epigenética.
Será que herdamos mais do que traços físicos?
Quando se fala em memória, pensamos logo nas lembranças que armazenamos ao longo da vida: o cheiro do café da avó, a música que marcou um verão, ou a senha do cartão. Mas e se parte da nossa memória não viesse da nossa experiência direta, e sim dos nossos antepassados?
A ideia de "memória genética" se baseia na possibilidade de que traumas, comportamentos e até aprendizados possam ser transmitidos de geração em geração por meio do DNA. Essa ideia, que já foi considerada pura especulação, hoje é alvo de estudos sérios na área da epigenética.
Como funciona?
Não estamos falando de “lembranças conscientes”, como se alguém nascesse lembrando-se de viver em outra época. A memória genética não envolve cenas ou histórias completas, mas marcas biológicas deixadas por experiências intensas vividas pelos nossos antepassados — especialmente situações de estresse extremo, fome, guerras, ou traumas emocionais.
Essas experiências podem alterar a forma como os genes se expressam, sem mudar a sequência genética em si. Ou seja, os genes continuam os mesmos, mas ligam e desligam de maneira diferente. Esse mecanismo é chamado de epigenética.
Exemplo real: os netos do Holocausto
Estudos mostraram que filhos e netos de sobreviventes do Holocausto têm uma maior predisposição ao estresse e alterações hormonais ligadas à ansiedade. Mesmo sem terem vivido os horrores diretamente, carregam marcas epigenéticas herdadas de seus pais e avós.
Casos parecidos foram observados em descendentes de pessoas que passaram pela fome na Holanda durante a Segunda Guerra Mundial. Os netos apresentaram alterações no metabolismo e riscos maiores de doenças crônicas.
Memória genética é hereditária?
A resposta mais aceita hoje é: sim, até certo ponto. Ainda não se sabe exatamente quantas gerações essas marcas podem durar — algumas pesquisas sugerem que efeitos epigenéticos podem ser visíveis por até três ou quatro gerações, mas isso ainda é estudado.
Essa herança não é "fixa". O ambiente atual também influencia esses genes. Ou seja, embora possamos nascer com certas “predisposições”, nossos hábitos e experiências ainda têm grande poder de mudança.
Dicas para melhorar sua própria memória
Apesar de não podermos controlar o que herdamos, podemos cuidar da memória que construímos no dia a dia. Veja algumas dicas comprovadas pela ciência:
1. Durma bem
Durante o sono, especialmente o sono REM, o cérebro organiza e consolida informações. Uma boa noite de sono é essencial para formar memórias de longo prazo.
2. Alimente-se com inteligência
Alimentos como peixes ricos em ômega-3, frutas vermelhas, castanhas, chá verde e cacau puro ajudam a proteger o cérebro e a fortalecer a memória.
3. Exercite o corpo
O exercício físico regular aumenta o fluxo sanguíneo para o cérebro, estimula a produção de novos neurônios e reduz o estresse.
4. Pratique o foco
Atenção é o primeiro passo para lembrar. Reduza distrações, evite multitarefas e treine a concentração com exercícios de mindfulness ou meditação.
5. Desafie o cérebro
Aprender um novo idioma, tocar um instrumento ou até montar quebra-cabeças são formas eficazes de manter a mente ativa e flexível.
6. Use associações criativas
Criar conexões visuais, contar histórias ou usar mnemônicos facilita o armazenamento de informações complexas.
7. Revise e ensine
O cérebro adora repetição espaçada. Revisar o conteúdo dias depois e explicar para outra pessoa são formas poderosas de fixar o conhecimento.
8. Evite o excesso de tecnologia
Depender demais de GPS, anotações digitais e notificações pode tornar o cérebro “preguiçoso”. Tente lembrar trajetos ou números de telefone de vez em quando.
A memória genética nos mostra que as vivências humanas não se limitam à nossa própria história. Somos influenciados, em algum grau, pelas experiências daqueles que vieram antes de nós. No entanto, isso não determina quem seremos. Nossas escolhas e o ambiente em que vivemos continuam sendo forças fundamentais na construção da nossa identidade e da nossa capacidade de aprender, lembrar e evoluir.