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Notícias da Região | Violência contra a mulher

Quinta-feira, 06 de Março de 2025

Palotina desenvolve ações de apoio às mulheres vítimas de violência

Correio do Ar

Um Boletim Informativo divulgado pela Vigilância Socioassistencial da Secretaria Municipal de Assistência Social de Palotina apresenta dados sobre a violência contra a mulher no município. Entre 2021 e 2024, houve um aumento de aproximadamente 25% nos casos de violência doméstica, o que destaca a necessidade de intensificar as ações das políticas públicas municipais no combate a essa violação dos direitos humanos. A Secretaria de Segurança Pública do Paraná registrou 584 ocorrências de violência contra a mulher até o mês de novembro de 2024, das quais 189 foram classificadas como violência doméstica.

Dentro das políticas públicas que enfrentam a violência doméstica, a Assistência Social desempenha um papel crucial, oferecendo diferentes níveis de proteção, como a Proteção Social Básica e Especial. A Proteção Social Especial de Média Complexidade é prestada no CREAS, por meio do Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI). Este serviço é destinado ao atendimento de pessoas que vivenciaram ou estão enfrentando situações de ameaça ou violação de direitos, como mulheres vítimas de violência doméstica.

A Articulação entre a Delegacia e o CREAS tem se mostrado eficaz no alcance das mulheres que estão com seus direitos violados, possibilitando acesso a políticas públicas que auxiliam na sua autonomia e na superação da violência. O trabalho é realizado por uma equipe técnica do CREAS, composta por assistente social e psicóloga, que trabalham com objetivo de oferecer apoio, orientação e acompanhamento a famílias que enfrentam ameaças ou violações de direitos.

Entre janeiro e novembro de 2024, o PAEFI recebeu 168 encaminhamentos de mulheres vítimas de violência doméstica. O mês de agosto, que coincide com o mês de sensibilização e enfrentamento à violência contra a mulher, teve o maior número de registros, o que demonstra a importância de ações de sensibilização mais frequentes. Tais mobilizações devem ocorrer em diversos espaços, como grupos de mulheres, comunidades, escolas e unidades básicas de saúde. O mês de março, que celebra o Dia da Mulher, é uma oportunidade importante para reflexão e conscientização sobre o direito das mulheres de viver sem violência.

Desafios para combater à Violência
As profissionais do PAEFI apontam desafios no atendimento e acompanhamento das mulheres vítimas de violência doméstica. Dos 168 casos encaminhados ao CREAS, apenas 89 mulheres aceitaram o acompanhamento, enquanto 59 recusaram o atendimento. Entre as razões para a recusa estão a falta de compreensão sobre o objetivo do serviço, a dependência financeira do agressor, a dependência emocional, dificuldades relacionadas ao vínculo empregatício e a naturalização da violência. Além disso, muitas mulheres mudam de endereço e não comunicam a equipe, o que dificulta o acompanhamento.

Muitas vítimas apresentam relações afetivas com seus agressores e muitas vezes sentem vergonha, medo de prejudicar o agressor ou os filhos, relatam culpa por não conseguirem romper o ciclo de violência. Esse cenário leva muitas mulheres a adotar estratégias de sobrevivência, muitas vezes em detrimento de sua própria vida e bem-estar.

O CREAS oferece um espaço de acolhimento e proteção social, buscando romper com o ciclo de violência por meio de ações que coíbem a violência doméstica e ampliam a proteção social, incluindo articulação com a rede de proteção. Para que o serviço seja mais eficaz, é essencial entender a realidade das mulheres atendidas pelo serviço, levando em conta fatores como as vulnerabilidades presentes no cotidiano das vítimas, sendo carência de renda, moradia, fragilidade de vínculos familiares e comunitários e outras situações.

Territórios Vulneráveis
O município de Palotina está dividido em sete territórios, sendo que em dois há os maiores índices de violência contra a mulher. O território III, que engloba os bairros Pôr do Sol, Céu Azul e Cohapar, e o território V, que inclui os bairros Dallas, União e Santa Terezinha, são os mais vulneráveis, conforme o Diagnóstico Socioterritorial.

No território III, está localizado o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), que recebe uma grande demanda de serviços e benefícios. O território V destacado pela presença da Universidade Federal do Paraná (UFPR), também enfrenta desafios relacionados à violência doméstica, com uma alta demanda por serviços de assistência social.

A violência contra a mulher não é exclusiva de famílias em situação de vulnerabilidade social, como demonstram os estudos da Promotora Maria Gabriela Prado Manssur, que afirma que "mulheres ricas e escolarizadas também são vítimas de violência". De fato, a violência contra a mulher pode ocorrer em qualquer classe social ou faixa etária.

As formas de violência mais recorrentes são a violência física, psicológica, moral e patrimonial, contudo muitas mulheres vêm sofrendo múltiplas formas de violência simultaneamente. Embora a violência sexual tenha menos registros, muitas mulheres não a reconhecem como violência, acreditando que essa só ocorre em contextos externos e sob graves ameaças.

Ações de Combate e Aconselhamento Jurídico
Os dados apresentados pela Secretaria de Segurança Pública do Paraná ressaltam a necessidade de intensificar o combate à violência de gênero. Embora a Lei Maria da Penha seja um marco importante, ainda é essencial desenvolver estratégias eficazes para garantir o acesso das mulheres a direitos sociais que permitam a superação da violência. Muitas vítimas permanecem em situações abusivas devido à falta de acesso a recursos como trabalho, moradia, educação, saúde, segurança e justiça.

O CREAS de Palotina oferece atendimento por meio do PAEFI, mas a equipe enfrenta sobrecarga, devido ao grande número de demandas. A capacitação contínua da equipe e a presença de um advogado no serviço são fundamentais para garantir que as vítimas recebam orientação jurídica adequada, principalmente em situações em que o agressor se utiliza de violência psicológica e distorção dos fatos para impedir que a mulher rompa com o ciclo de violência.

Além dos serviços oferecidos pelo CREAS, Palotina conta com a Assessoria de Políticas de Defesa da Mulher, que trabalha para consolidar a aplicação das políticas voltadas às mulheres no município. A assessoria atua com grupos de mulheres em comunidades urbanas e rurais, no comércio, na educação, saúde e outros espaços, com o objetivo de combater a violência doméstica e socializar a informação sobre os direitos das mulheres.

A Assessoria de Políticas de Defesa da Mulher tem sido um aliado importante na luta contra a violência doméstica em Palotina, promovendo a inclusão das mulheres, contribuindo na redução do isolamento social, fator favorável a perpetuação da violência.  Enfrentar a violência contra a mulher exige mudanças culturais profundas, que eliminem as estruturas patriarcais, além de ações educativas e sociais eficazes. Para isso, é necessário integrar ações com outras políticas públicas, como saúde, segurança pública, educação, e outros órgãos, visando o fortalecimento da rede de proteção.

Todos têm um papel na luta contra a violência. Conhecer as formas de violência e os serviços de apoio disponíveis é fundamental, pois, em algum momento, todos podem se deparar com uma mulher em situação de Violência. A luta pelo direito das mulheres em viver livre de violência é constante e de toda a sociedade.

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